De tudo, ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.
Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e espalhar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento.
E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama
Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.
(Soneto da fidelidade - Vinicius de Morais)
Estava lendo o poema Soneto da fidelidade de Vinicius de Morais. E percebi o quanto de palhaço tem nesse poema. Exaustivamente usado. Mas pouco degustado.
O soneto aborda a entrega, o encantamento, o viver presente na ação, de variação de emoções, da aceitação e transposição da derrota (morte e solidão), e do contentamento com a impermanência da vida.
Lendo o poema lembro da frase de um outro escritor, Henry Miller: "O Clown é a poesia em ação". Li essa frase já faz bastante tempo e hoje ela fez um pouco mais de sentido pra mim.Quem sabe algum dia faça total sentido. talvez não...sei lá.
Mas o fato é que quando saímos de palhaço, entramos em conexão com outro tipo de relação que posso chamar de: Poesia. Esse ar que respiramos e enche nosso corpo de liberdade.
Tanto o palhaço fazedor de derrotas como o poeta fazedor de poemas como qualquer outro artista tem que estar com os pulmões cheios de poesia. Para fazer um sopro de vida e ser deus por um momento.
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